pano para mangas

"Três horas de diferença para a frente ou para trás?" Hesitei. Explico-lhe? Venho de Oriente, tal como o sol, que só sabe viajar para Ocidente. E no entanto, volta sempre. Bom, o que interessa é que o sol passa primeiro em Portugal e só depois no Brasil. Lá é mais tarde. "Em Portugal são 4 menos 20." A sua cara simpática não revelou se tinha percebido. Devia ter dito 3 e 40. Aqui falo uma língua estrangeira. Quando disse 6 e um quarto, alguém traduziu: "6 e quinze". Já devia saber que a música são dois terços da mensagem. Vou-me habituando. Sabe bem ouvir português com música.

Por baixo de nós vão passando luzes e mais luzes. Brancas, amarelas, laranja. Todas à mesma altura. Um país plano. Como o "Flatland" de Edwin Abbott, um mundo a duas dimensões, habitado por linhas, triângulos, quadrados, hexágonos e quase-círculos.

Depois de horas e horas de escuridão feita de mar e céu, eis que uma onda de estrelas desliza sobre o tapete negro do Atlântico. Automaticamente a respiração se suspende, e imaginar o que sentiu Colombo leva-nos para sítios onde só entram os sonhos e as emoções.